Santos Populares! Uma noite bem peculiar...

Este ano, confesso que nem sequer estava na verdade muito entusiasmado em sair para a rua afim de festejar a noite de santo António, mas apôs alguns convites e a insistência de alguns amigos lá resolvi reunir-me a eles e partir rumo a Alfama .

O roteiro traçado era simples... Jantar umas belas sardinhas assadas ao som da típica musica popular, beber uma boa sangria e circular de manjerico na mão seguindo a multidão rua acima rua abaixo.

Porém, há dias em que às vezes o que está planeado acaba por acontecer de forma diferente e bem peculiar! E este foi um desses dias ! Ora vejamos :

O encontro estava marcado em frente a minha casa de forma a seguirmos por metro até à baixa « Sim, porque circular de carro nestes dias em Lisboa só mesmo para gente maluca da cabeça », Ainda a meio de tal viagem um dos meus amigos revela aflito que perdera o seu cartão de crédito, pelo que decide voltar para trás na tentativa de o recuperar algures no chão da estação inicial. Resultado, 40 minutos de espera todos sentadinhos em plena escadaria de uma igreja à saída da estação do metro Baixa - Chiado. Já fartos de tanto esperar somos surpreendidos por um telefonema desse mesmo amigo a dizer que estava à nossa espera junto à Casa dos Bicos no Campo das Cebolas! Como é óbvio assim que chegamos junto a ele houve discussão da grossa ! Findo isto, resolvemos então entrar Alfama dentro na procura desesperada de um local para jantar. Durante mais de uma hora atravessamos ruelas, passamos por becos, contornamos pracetas atafulhadas de gente. Subimos , descemos e voltamos a subir e o tal lugar para sentar e comer é que definitivamente não surgia ! Já cansados de tanto andar e de tanta confusão incrivelmente voltamos ao ponto inicial, ou seja, à casa do Bicos no Campo das cebolas e resolvemos aguardar que uma das mesas de algum restaurante fica-se livre .

Ai, foi outra aventura! De olhares famintos, tentávamos hipnotizar quem se encontrava sentado de forma a que se levantasse, mas nada! Subitamente surge no horizonte algo que somente em Portugal poderia existir! Um restaurante tipicamente chinês havia montado no exterior uma grande esplanada e uma grelha e a ementa era composta por : sardinhas e frango assado, entrecosto, enchidos etc etc ... Isto sim é a chamada Globalização! Nem hesitamos e logo tomamos conta de umas quantas mesas disponíveis! O manjar foi o mais internacional e confuso possível! Entre a típica sardinha assada no pão, beliscava-se tófu picante e chão-min de camarão, entrecalado com o famoso entrecosto na brasa e a celebre salada de alface e tomate. Nas bebidas a panóplia também era muita, se por um lado bebericava-se sangria, por outro bebia-se cerveja portuguesa e cerveja chinesa Tsing-táo . Completando o festim as sobremesas também não fugiram à regra e no meio da salada de frutas tipicamente portuguesa surgia bolas de gelado frito com rum e banana Pái-si. As pessoas que por nós passavam sorriam e segredavam, com ar certeiro de que não batíamos bem da cabeça ! Até porque no topo da mesa a minha grande Amiga Edite salientava-se dos demais presentes nesta tertúlia gastronómica. Era vê-la sorridente a ostentar majestaticamente uma daquelas coroas de princesa com luzes a piscar, vendidas pelos muitos indianos que proliferavam nas ruas.

O caminho de regresso foi feito acompanhado por cantigas inventadas na hora que roçavam a obscenidades entre abraços e gargalhadas de todos .

Santo António, não fosses tu ter o menino nos braços e ainda te terias juntado a nós! Afinal de contas o que não falta por ai são lojas dos chineses que vendem essa tua imagem até feita de plástico !

Mas a verdade é que à excepção de alguns pontos em Alfama onde a musica que se ouvia em nada tinha a ver com os típicos santos populares « musica africana, brasileira e até indiana », o cheiro da sardinha que invade Lisboa neste dia transporta-nos para outros tempos, transporta-nos para outras épocas onde a alegria do povo de Lisboa enchia as 7 colinas de alegria !!!!!

Viva Lisboa! Viva os Alfacinhas ! Alface tipicamente Portuguesa pois então!